quarta-feira, 7 de maio de 2008

Uma noite no Bairro Alto: guia de instruçoes (como actuar)

Antes de sair para o Bairro há um grande prelúdio. Parece nao acabar. Geralmente acaba nas escadas do Belas.
- "Onde é que vamos?! Diz aí bares."
- "Prrr... Sei lá, O Sítio do Cefalópode."
- "Oh, esse nao..."
- "O Tuareg."
- "Naaaa... Hoje deve estar cheio e paga-se para entrar." (Há que começar a colocar entraves a todos os nomes de bares que sejam ditos - se nao fôr do cú é das calças).
- "Entao nao sei."
- "Vamos ao Bairro?!" (Esta é uma grande variaçao e originalidade. Todas as nossas sextas-feiras sao diferentes. E é sempre algum génio que termina com esta ideia brilhante).
- "Ya! Pode ser. O Champa e isso já foram." (Há que falar nisso sempre como se fosse uma coisa nova ou rara).
- "Quem é que vai?! Quem é que vai?! Quem leva carro?! Quantos somos entao?! Está um a mais!" (Mais uma vez, questoes existenciais em vao. Sao sempre os mesmos que levam os carros, sao sempre os mesmos que vao).
- "Entao eu nao vou, pronto." (Esta nunca é a minha fala, apesar de nao ter carro, sou como uma lapa).
- "Oh, nao sejas parvo."
- "Entao vá, vamos, estamos todos? A Paula? Ainda está lá dentro? Vai chamá-la pá! Já se está a fazer tarde!"
_
FIM DO PRELÚDIO
_
Já pelas ruas de Lisboa. Campo Grande. Rua acima, rua abaixo. Passamos pelo Saldanha. Dizer adeus e apitar ao senhor velhinho parado no semáforo. YEEEAAHHH!!!! Passar pelas costas do homem do leao, ilustre Marquês de Pombal. E aproxima-se o caos. Trânsito. Há 1h30 (digo da manha ou da noite?). Prrrr...
- "E agora onde é que estacionamos? Aqui nao há."
- "Já passámos por aqui três vezes, vai ver lá em baixo, costuma haver."
- "Nao há nada. E se estaciono ali? Achas que é proibido?."
- "Acho que nao passa aqui outro carro."
- "E se pomos no parque?"
- "Olha o Zé! Yeeeahhh! Já estacionaram??? Onde? Pfff...Nós já andamos nisto há 40 minutos."
- "Encontramo-nos na Tasquinha do Fadista."
- "Ok. Até já."
_
FIM DO 1º CAPÍTULO
_
Sobe rua, desce rua.
- "Onde é que eles estao?"
- "Na Tasquinha."
- "Vamos à Leitaria do Nelson primeiro, está lá o outro pessoal."
- "Queres beber imperial ou tango? Eu pago agora, pagas a próxima."
- "Já tenho de ir mijar. Vamos ao bar dos gays que está mais limpa a casa-de-banho das mulheres."
- "Vamos ao Jamaica. Vens?"
- "Nao, já estou podre. Doem-me as pernas de estar em pé."
- "Anda lá meu. Mariquinhas."
- "Eu vou ao Velvet."
- "Pfff, está bem, bora lá, mas nao fico muito tempo."
_
FIM DO 2º CAPÍTULO
_
CONCLUSAO
_
- "Olha lá, o Zé?"
- "Estava todo lixado, está a vomitar na casa-de-banho."
- "E a Paula? Também."
- "Entao e agora quem é que leva o carro????"
_
FIM
E agora digam lá: ainda está tudo na mesma?

terça-feira, 15 de abril de 2008

Cicatriz artística

Tenho uma cicatriz artística. De tanta geometria descriptiva e conceptual que me entra pelos olhos, a minha anatomo-fisiologia também começa a modificar-se.
O fenómeno surgiu no ante-braço direito. Já tinha uma cicatriz prévia com cerca de 2 anos (reparem na terminologia técnica). Como duas rectas unidas, com um determinado ângulo entre elas.
Foi este fim-de-semana, a escalar uma montanha. No meio de cactos, todo o tipo de plantas com picos e rochas. Fiz uma nova cicatriz, exactamente no mesmo ante-braço, muito próxima da anterior. Até aqui tudo bem, relativamente normal. Teria um braço mais massacrado, pronto, ok.
A questao é a seguinte: a nova cicatriz encaixa perfeitamente com a anterior, ou seja, tem exactamente a mesma forma, mas numa posiçao distinta, a qual lhes permite encaixarem-se.
Vou tentar reproduzir aqui o novo desenho que tenho no braço.

A da vossa esquerda é a antiga. Incrível. Podem nao acreditar mas é mesmo assim, perfeito. Uma com cor diferente da outra, só isso.
Já me disseram que a única pessoa que tem este tipo de cicatrizes é o Harry Potter. Mas tendo em conta que eu também já tive uma cicatriz na testa, muito parecida à do H.P.... Sinto-me no direito de pensar que eu tenho tanta legitimidade como ele.
De qualquer forma, obrigada pela comparaçao. É sempre reconfortante pensar que, provavelmente, há um Valdemort a assombrar-me por Cantoria, a querer matar-me. E que na melhor das hipóteses vou acabar a lutar com ele numa noite de Lua cheia no topo do cerro castillo (onde fiz a cicatriz do braço), no meio das ruínas, o mais perto possível do precipício, claro está.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Porquê? Como? Quando? Para quê?

Porque sim.
Para quando morrer nao descobrir que nao vivi.
Para ser uma dessas pessoas que ainda sabe viver. Ou que pelo menos tenta aprender.
Para ter tudo aquilo que os meus braços consigam abarcar.
Para descobrir o X que está sempre a mudar de posiçao no mapa. E desenterrar o tesouro.
Para ganhar como objectivo principal nao ter objectivos longínquos.
Para conseguir colocar-me nos mil e um cantos da sala.
Para ter mais gente que me dê muito mais de mim. E para dar mais da gente à gente. E para dar mais de mim à gente. E para que a gente me dê muito mais de si. E para que a gente de sempre e muita outra gente sejam eu e eu seja a gente.
Para nao fugir com medo da chuva. Nem ficar sentada à sombra à espera do Sol.
Para recomeçar sempre a partir do +1.
Para pensar que estou a 100%, mas que de certeza que há um 200% escondido que vai ser declarado já a seguir. E que a progressao aritmética vai continuar.
Como? Fácil. Sempre. Inquieto.
Trocar a razao pela acçao. Sentir.
"Quando" nao existe. Quando é agora. E o agora já foi e é agora outra vez. Pela primeira e última vez. E nao vai ser porque está a ser agora.
Porque a minha vida está nas minhas maos. E porque a Liberdade é tao grande que podia asfixiar. Mas nao asfixia.
Porque a Liberdade está cá dentro e nos impulsos que se tomam.
Porque para dizer isto nao encontro palavras. E o coraçao acelera e a adrenalina sobe. Só por dizer. Só por dizer o que nao consigo exprimir.
Porque o certo nao é o que todos fazem.
Porque o que todos fazem nao é errado.
Porque o que todos fazem e o que tu fazes nao se pode comparar.
Porque o dia de amanha é tao incerto para mim como os meus cinquenta anos.
Porque a melhor frase feita de sempre é que a Vida é uma caixinha de surpresas.
Porque ainda há tanta coisa atrás da montanha onde nao cheguei. E porque ainda há tantas montanhas que ainda nao vi.
Porque me abisma ouvir histórias. Porque quero que a minha História me abisme.
Porque o coraçao salta-me do peito.
Porque estou a descobrir porquê.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Imagem

E agora também eu queria estar num entardecer
numa praia qualquer,
com os pés descalços
num dia de Inverno.
A fugir do mar
a correr para ti.
O casaco de la,
o abraço apertado
e o calor no peito.
Imagina a falésia,
a areia grossa,
o mar de prata,
o branco do céu.
Imagina a casa nas dunas
de madeira pintada de branco
e as janelas de moldura azul.
O barulho do fogo,
a manta no sofá,
o vapor do chá e as maos a aquecer.
Imagina-me ali
a olhar pela janela.
E o mar de prata
o mar de prata...

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Quê??

- O que é que a noite faz?
- A noite cai.

- O que é que o nevoeiro faz?
- O nevoeiro levanta.

- O que é que o Sol faz?
- O Sol nasce.

- O que é que a estrela faz?
- A estrela brilha.

- O que é que o vento faz?
- O vento sopra.

Afinal quem é que trabalha mais?

E afinal o que é que estou para aqui a escrever?

Diz que para criar é preciso sofrer. Que a actividade artística pressupoe um rasgo de depressao. Pensem entao que estou a ajudá-los a acelerar o processo criativo.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

A Conspiraçao do Shuffle

Chega uma pessoa ao quarto, com vontade de ouvir música. Seja para acompanhar o estudo ou o que for (O que for. É sempre melhor quando serve para acompanhar o que for).
E é verdade. Tantos anos de existência. Tanta gente que se conhece. Com quem se fala desta ou daquela banda. Do que se vê na televisao. Do que se ouve na rádio. Enfim! As fontes sao intermináveis! É natural que já se tenha amontoado uma quantidade mais que considerável de música. Claro, é-se mais inseparável de umas que de outras. Mas se têm o previlégio de se encontrarem dentro daquela pastinha bela e amarela "A Minha Música", é porque alguma virtude terao.
Há uma espécie de exame antes de entrarem para aí. É como a faculdade. Carregamos no botao copiar e há um pequeno compasso de espera (até aparece a janelinha com as folhinhas a passarem de um ficheiro para outro). Esse tempo nao é utilizado somente para passar a pequena track para a sua nova casa. Nao. Durante esses micro-segundos, a pobre está a ser sujeita a um exame mais que rigoroso. Primeiro tem de mostrar o seu formulário de pré-requisitos devidamente preenchido e reconhecido por um Maestro, se tem o formato pedido naquela instituiçao. Isso e muito mais que se pode pedir a uma caixinha de música virtual.
Se se encontra tudo nos conformes, lá vai ela feliz da Vida ter com as suas restantes companheiras de quarto, que por sua vez estao com outras na grande casa da "Minha Música". Se nao, já nao lhes bastava a humilhaçao de nao poderem ingressar, ainda o anunciam com um sinal sonoro e uma nova janela com uma cruz a vermelho... E seja o que o Cyber-Deus quiser.
Bem. Para as felizardas, nem tudo serao rosas. Há outro teste a passar: O do Windows Media Player/iTunes.
Essa é a seguinte entidade que tratará dos testes de performance e será aí que as pequenas tracks vencerao na vida ou nao. Como quem chega a Las Vegas para vencer na vida mas acaba a limpar mesas. Querem todas uma entrada no WMP... Mas há uma grande percentagem que acaba somente a passar pelo skipp. "Next!"
Já ingressadas nas aulas no WMP, esse mestre feroz, todas lutam para ser as mais tocadas. Para muitas, que nunca sao eleitas pelo Dono da Casa, a sua única esperança para serem ouvidas é o shuffle. Apesar de o nervosismo ser muito, sempre que se é chamado a participar na aula.
No entanto, aí há uma conspiraçao e que nao é pequena. Como em qualquer turma da Universidade, há sempre os alunos preferidos. Por mais que o professor queira ser imparcial, muitas vezes nao consegue esconder a parcialidade. Nem à força do shuffle.
Como por magia (diz o professor que nao controla o facto), no meio de tantas centenas de pequenas músicas aos saltinhos ansiosas por sentirem o play no seu corpinho, à algumas que repetem a sua actuaçao num espaço de tempo considerado ridículo.
Com tantas dezenas de quartos na casa, há algumas portas que nao chegam a ser abertas. Por incrível que pareça há muitas pequenas tracks que ao fim de tantas horas de aulas, nunca ouvem o seu nome a ser dito pelo mestre, apesar do seu dedito estar sempre beeem esticado.
Que injusto! dizem elas, Como é que eu e as minhas irmas de quarto nunca fomos chamadas e noutros quartos já foram quase todas??!!
Reclamam. Muito. E com razao. Digo eu.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

H.L.

É verdade, já venho uns dias atrasada, mas juro que foi uma coisa que teve algum impacto em mim e por isso parece-me bem que fique aqui assinalada, até porque de certeza que a Pepita também o sentiu!
O Heath Ledger... Juro que fiquei chocada... Que triste...

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Processando alimentos

Pois já aqui nas Espanhas volto a escrever nestes sítios internetários.
Este blog anda a morrer ou é impressao minha? Nao podemos deixar isso acontecer! Tantas histórias giras que tínhamos para aqui. Os milhares de leitores que temos já estao a chorar de saudades de ler as nossas sábias palavras.
A verdade é que tenho a barriga cheia demais de tanto comer para conseguir pensar. O sangue saiu todo do cérebro para o estômago. Vou esperar fazer a digestao para vir escrever.
Até logo!